sábado, 11 de setembro de 2010




Amanhã é dia de colher

É dia de vasculhar os verdes pastos

Seguindo os rastros do boi Zebu.



Seguiremos após a tempestade

Cantarolando Ventania

Em busca da chave dourada



Faremos um chá de gosto ruim

Que vai liberar o espírito

Dos nossos convidados



Os espíritos das matas

Já preparam o banquete

Que saciará a nossa fome de saber



E só quem sabe é que percebe

Que esta festa é para os livres

Que não tem medo de caretas



E nossas auras vão brilhar

Junto com o nosso sangue,

Ferverá o sumo do santo fungo.








Chega um instante para o poeta



Que ele acha que perdeu o tino.

O tiro antes certeiro

Que fazia a palavra estrebuchar sobre o papel

Nesta hora sai pela culatra.



Parece que a lata fica vazia.



O que antes o poeta fazia com naturalidade

Em dado momento sai espremido

Como aquela dor de barriga de dar arrepio.



Mesmo quando escreve

GRITO, APITO ou BUZINA

Tudo se cala e nada rima.

Me guardo



Tô me guardando pra sabe-se lá o quê
Vai saiber
Mas vida de formiga não é pra mim
Nascí assim
Deitado na varanda vejo a vida passar
E tá passando
Se me chamam de vagabundo
Deixa chamar
Meu tempo nunca foi dinheiro
De janeiro a janeiro
Meu tempo é só da poesia
De noite e de dia
Se me perguntar se ela é vagabunda (poesia)
Não sei falar
Mas se a pergunta for pra mim
Melhor calar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Morte





Existe um beijo

Que a mim apenas um foi reservado

Não anseio por esta boca

Mas anseio saber enfim que palavras ela dirá.

A boca do anjo restaurador de todas as coisas

Vai me falar dos sóis que já beijou,

Dos jardins que fecundou, e

Das auroras que tem proporcionado.

Anjo mal interpretado.

Quando chegar a minha hora, quero que me diga

Do caso de amor que tens com a vida,

A mais louca das amantes, que agora no momento

Também me sustenta e guarda.

Nada existe fora dela, nem mesmo tu não está além da vida

Para mim, juntas vocês são só dois lados de uma mesma moeda.

O tempo corre tanto para frente como para trás,

A mesma mão que traz é a que leva.

Assim como não temo o que havia antes da vida

Não preciso temer o que vem depois dela,

Pois desde o principio, a água que brota da fonte

É a mesma que cai do precipício.




De manhã cedo e o roçado

O sol raiou, o galo cantou e o roçado

O buzão chacoalhando, a bóia esfriando e o roçado

A enxada na mão, a mão inchada, o calo no pé e o roçado

A luz, o gás, a feira, a água, o remédio do filhinho

A boneca da filhinha e o roçado

O dizimo do pastor

A prestação da Avon

O forró na associação

A rifa do fogão e o roçado

A quinzena ta chegando

O coração vai apertando

O dinheiro ta faltando

A cobrança ta chegando

A companhia ta cortando

A usina enricando

A juventude ta passando

A vida se findando

A barriga ta roncando

E o roçado.



Um gole, outro gole...
Cigarros que sempre acabam na hora errada
E um Lexotan que não faz efeito
Ou fez eu eu que nem sinto
É o que resume neste momento
Todo o trabalho da existência para comigo.
Sempre me pede mais um trago
Mais um gole, mais um beijo...
No meu rádio as mesmas músicas tentam me alcalmar
A Noite que nunca muda permanece calada
A mente que nunca cala estrassalha a mudez da noite
Minha nudez se estampa no papel que agora é uma tela
Onde vejo o filme dos meus dias.
Converso com a noite bebada e espero o efeito lerdo
Do Lexotan que não bate. Não, ainda estou aqui
Esperando preenxer o espaço do papel e depois me ler
Pra parecer que alguém fala comigo
Ou que alguém está me ouvindo.
Mas isto é só devaneio da mente limitada em que estou confinado
è devaneio da mão mecânica sobre o papel em que estou confinado.
Mais um gole e o espaço está acabando.
Agora vou ler e com certeza vou gostar
Do que eu preferia não precisar escrever.

Olhos de macaco



Não quero mais chorar letrinhas
Quero em gotas o escape dos palavrões
Que não comporto mais dentro de mim.
Quero que cuspam, os olhos de porcelana desta mascara.
Quero a tempestade de quem ainda tem olhos de macaco.
Será que nem chorar não mais mereço?
Que condição é esta, que me priva do que me faz humano?
Que carapaça é esta?
Que espirito cruel é este que me foi sorteado?
Corpo e alma que já não se comovem nem com a própria lastima
Fujam agora do que resta do meu ser e se possível
Me deixem rolar as lagrimas.